(imagem retirada da internet)
Já estava desempregada há alguns meses. As minhas poupanças
estavam a acabar e eu precisava urgentemente de arranjar um emprego. Tinha
acabado de conseguir marcar uma entrevista para um trabalho de secretariado
numa empresa de transportes.
Tinha de me esforçar a sério! Tratei de arranjar um conjunto
bem apropriado para o trabalho: camisa branca, saia subida com cinto largo e um
sapato preto clássico. Cabelo apanhado e uma maquilhagem bem suave. Nada de
exageros!
A sede da empresa ficava mesmo no centro de Lisboa. Odiava a
ideia de ter de apanhar transportes todos os dias, mas não podia estar a ser
exigente agora. Além do mais, nem sabia se iria ser seleccionada.
A entrevista era às 10h, cheguei 20 minutos antes, como é
meu hábito, e de bom-tom. Apesar do meu bom hábito, já lá estavam algumas
candidatas, supostamente deveriam de ter sido entrevistadas às 9h. Boa…estava
tudo à espera. Aparentemente o director dos RH estava preso no trânsito, e
bastante atrasado. Ouvi uma senhora que lá andava a organizar aquilo, informar
que o Dr. Pereira já tinha entrado no edifício e que iria começar as
entrevistas o quanto antes. Fui junto da senhora confirmar a ordem das
entrevistas, concluí que era a última de 5 que ele iria entrevistar de manhã,
portanto, podia ir à casa de banho à vontade aliviar os nervos.
Quando regressei à sala de espera já tinha entrado a
primeira candidata, fiquei aliviada por finalmente ter começado, assim já só
faltavam 3 para chegar a minha vez. Queria despachar logo aquilo.
Passados 15 minutos a porta da sala do Dr. Pereira abriu-se
e iria sair a primeira entrevistada. Deu para ouvir a voz da pessoa que estava
perto da porta…parecia um homem bastante jovem, apesar de ter uma voz grossa. A
luz do sol que vinha de dentro da sala não deixava ver nitidamente o rosto da
pessoa que estava a porta. Percebi que era jovem, moreno e que estava a olhar
para mim, fixamente. Tentei focar melhor a sua silhueta, sem parecer uma velha
pitosga. Aquele rosto parecia-me extremamente familiar…
A segunda candidata entrou na sala. O Dr. Pereira fechou a
porta, lentamente, e eu de olhos postos nele. Quando esta se estava mesmo quase
a fechar, e tapou toda a luz, consegui ver melhor o rosto que me fitava: um
sorriso perfeito, aquela boca carnuda. Não podia ser! O meu coração disparou
como uma flecha e comecei a suar frio. Levantei-me e fui ao balcão, onde estava
a assistente, e perguntei, sem pudores, qual era o primeiro nome do Dr.
Pereira, ao que ela me respondeu: “Filipe”. Sorri educadamente e agradeci.
Voltei a sentar-me no meu lugar anterior e dei por mim a engolir em seco, a
agitar a perna freneticamente e a brincar com os polegares, a desenhar círculos
em volta um do outro. Tinha de pensar num plano para me pirar dali, mas ao
mesmo tempo estava com a corda no pescoço e precisava de ao menos tentar.
Respirei fundo e jurei que ia tentar ficar para a entrevista, ou pelo menos o
tempo que conseguisse aguentar até lá.
A segunda candidata saiu da sala, acompanhada por Filipe e
ele aguardava, junto à porta, que a terceira entrasse. Fitava-me com aqueles
olhos castanhos, aquelas pestanas que lhe davam toda uma profundidade e
mistério no olhar, um sorriso disfarçado no canto daquela boca deliciosa. A
porta voltou a fechar-se e todo o cenário do nosso primeiro encontro se aflorou
na minha cabeça. Toda aquela loucura de dois desconhecidos, aquela fúria com
que ele me possuiu contra a porta do quarto do motel, sem mal me deixar entrar
e sem ao menos me dizer olá. Senti-me a ficar molhada só de pensar naquele
homem com as suas mãos sobre o meu corpo novamente, a percorrer-me com todo
aquele desejo. Senti-me arrepiar quando quase pude sentir a sua boca passear-se
no meu pescoço, nos meus seios.
(...)
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